segunda-feira, 4 de abril de 2011

Genetica na odontologia

Um centro de pesquisas realiza estudos com 1.200 pares de gêmeos, com idade entre seis meses e 40 anos, no interior de Minas Gerais. Apesar da descrição anterior se encaixar bem num roteiro de ficção científica, os estudos realizados com os gêmeos idênticos e fraternos de Montes Claros (MG) são reais, sérios, têm embasamento e aplicam uma ferramenta que traz um novo enfoque para a pesquisa odontológica: a Genética.




As pesquisas desenvolvidas na Associação de Gêmeos do Norte de Minas Gerais – região onde se concentra grande número de gêmeos - são coordenadas pelo cirurgião-dentista brasileiro Walter Bretz, que há 25 anos está nos Estados Unidos e atualmente é pesquisador e professor do Departamento de Cariologia da Faculdade de Odontologia da Universidade de Nova York, e por Patrícia Corby, também CD brasileira e professora na mesma instituição. “Desde 2000, desenvolvemos vários modelos de estudo com gêmeos em Odontologia. O objetivo é identificar se há e quais são as contribuições genéticas e am­bientais nas características bucais”, diz Bretz. Ele completa que, em longo prazo, o objetivo é poder definir tratamentos ou me­didas de prevenção mais específicos para cada pessoa e, portanto, mais eficientes.
Um dos modelos de estudo de­senvolvidos que encontra di­fe­ren­cial em gêmeos é o de caso controle, pois entre eles são mi­nimizadas as variáveis ambi­netais, além das genéticas, já que irmãos geralmente recebem a mesma educação, têm o mesmo acesso a serviços de saúde, os mesmos hábitos alimentares, entre outros fatores. Desta forma, é feito o pareamento entre irmãos nos grupos teste e controle, facilitando a análise e comparação das carecterísticas estudadas.
 
Relações entre boca e genes
Segundo Bretz, os modelos de estudos realizados em Montes Claros levantam e cruzam, nos níveis clínico e genético, muitas e detalhadas informações sobre a saliva, forma dos dentes, halitose, superfície das papilas gustativas, resposta a tratamentos, como o clareamento, e a presença das bactérias benéficas da comunidade microbiana presente na boca. “A partir dos dados já levantados, constatamos que a cárie tem um componente genético”, diz o pesquisador.
Apesar de já haver esta cons­tatação, há muito que se estudar ainda e os próximos passos da pesquisa vão aprofundar as análises da microbiologia oral dos pacientes, para definir melhor as relações entre condições e características bucais e os genes. “Atualmente, também estamos desenvolvendo muitos estudos com gêmeos idênticos com características discordantes em relação à cárie e à doença periodontal”, completa Bretz.
 
Uma ideia que deu certo
A aplicação da Genética na Odontologia é uma grande novidade e a criação da Associação de Gêmeos do Norte de Minas Gerais mostra que o tema já chama a atenção da comunidade científica internacional. Walter Bretz conta que a ideia deste centro surgiu em 1999, quando se reuniu com geneticistas nos EUA para discutir possibilidades de pesquisas relacionando as duas áreas. “Aí, vimos que precisávamos estudar melhor a cárie utilizando o modelo de gêmeos.”
Em 2000, o projeto foi instalado em Montes Claros e hoje é mantido pelo governo norte-americano, por meio de um programa que apoia pesquisas reconhecidas pelo seu mérito científico, e também tem parcerias com a indústria. Além dos coordenadores, Walter Bretz e Patrícia Corby, o centro conta com um grupo permanente de mais de 15 pesquisadores colaboradores, que desenvolvem pesquisas não só em Odontologia, mas também em Medicina e áreas afins da saúde.

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