Aspectos Psicossociais da Síndrome de Turner
SUZIGAN, Lígia Zuppi C.; SILVA, Roberto B. de Paiva e e MACIEL-GUERRA, Andréa T..Aspectos psicossociais da síndrome de Turner. Arq Bras Endocrinol Metab [online]. 2005, vol.49, n.1, pp. 157-164. ISSN 0004-2730.
“A SÍNDROME DE TURNER (ST) ocorre em aproximadamente 1:2.130 nativivos do sexo feminino e é decorrente da presença de um cromossomo X e perda total ou parcial do segundo cromossomo sexual. Seus sinais clínicos mais importantes são a baixa estatura – a altura final é, em média, entre 142 e 146,8cm, podendo variar de acordo com a altura dos pais – e a disgenesia gonadal, levando à amenorréia primária, atraso no desenvolvimento puberal e esterilidade.” (p.158)
“O tratamento da ST tem como objetivos principais promover o crescimento, repor esteróides sexuais, corrigir, sempre que possível, as anomalias congênitas ou adquiridas, oferecer suporte psicossocial e, conseqüentemente, melhorar a qualidade de vida das pacientes.” (p.158)
“Os problemas de comportamento mais comumente observados em meninas com ST são imaturidade, ansiedade, problemas de atenção/hiperatividade, dificuldades de interação social, retraimento e comportamento agressivo...” (p.158)
“Alguns autores apontam a baixa estatura como sendo o principal fator de impacto emocional e a origem de muitos dos problemas psicossociais encontrados na ST. A baixa estatura interfere de forma negativa na percepção de outras pessoas quanto à maturidade, popularidade e capacidade acadêmica, causando impacto no funcionamento psicológico e social e na auto-estima...” (p.158)
“O atraso no desenvolvimento puberal também é grande fonte de stress para muitas pacientes com ST. Quando a puberdade não acontece próxima à idade das amigas, pode levar a paciente a sentir-se diferente e a isolar-se, justamente numa época da vida em que os relacionamentos sociais são de suma importância. Sentimentos intensos de inferioridade e comportamento imaturo também são relatados diante do atraso puberal (26).” (p.159)
“A infertilidade também pode ser considerada um fator de grande impacto emocional, podendo causar períodos de depressão e interferir tanto na sexualidade quanto na auto-estima.” (p.159)
“Meninas com ST apresentam menor competência social quando comparadas com aquelas com baixa estatura e cariótipo normal e com meninas com estatura normal. Em alguns estudos, as próprias pacientes afirmam ter problemas sociais. Segundo Boman e cols., tanto os pais quanto as próprias pacientes relatam a ocorrência de dificuldades sociais, como provocações por parte dos colegas e a ausência de amigos mais próximos.” (p.159)
“Quando adultas, as mulheres com ST relatam maior isolamento social em comparação a mulheres saudáveis e tendem a ter uma vida social bastante limitada (23,38).” (p.160)
“É freqüente, ainda, que ocorram provocações e ridicularizações por parte de colegas devido à baixa estatura ou a outras características físicas específicas da ST, dificultando, assim, a integração social. Frente a esta situação, algumas pessoas tendem a ter baixo auto-conceito e baixa auto-estima, e a isolar-se cada vez mais, perpetuando a dificuldade de socialização e tornando-se pouco populares entre os colegas – fechando um círculo vicioso. Em alguns casos, há maior facilidade em integrar-se a um grupo de pessoas mais jovens em função da baixa estatura e da imaturidade emocional...” (p.160)
“Dificuldades de relacionamento amoroso são freqüentemente relatadas por mulheres com ST (37); em comparação com a população como um todo, relatam ter suas primeiras experiências sexuais com mais idade, são sexualmente menos ativas e casam-se menos...” (p.160)
“A relação familiar e a interação entre os pais e suas filhas com ST é evidentemente de suma importância para o desenvolvimento psicológico da criança ou adolescente. Pessoas com problemas de relacionamento social (como é o caso de muitas meninas com ST) são mais dependentes de uma família bem ajustada, e quando existem problemas familiares tendem a ser mais fortemente afetadas em comparação com aquelas que mantém boas relações sociais.” (p.160)
“Doenças psiquiátricas são ocasionalmente relatadas nessas pacientes, como depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar e anorexia nervosa, mas parece não haver risco aumentado para doenças psicopatológicas graves.” (p.161)
“Sabe-se que a presença de uma “doença crônica” pode ser fonte de grande impacto emocional e ter conseqüências na personalidade e competência social dessas pacientes.” (p.161)
“Assim, num esforço conjunto entre pais, professores, médicos e psicólogos, a menina com ST deve ser estimulada a se comportar de acordo com sua idade, a fazer parte de diversos grupos sociais através de atividades esportivas, de lazer etc., e a ser independente.
Assim, é possível atenuar a imaturidade emocional que quase sempre está presente em pacientes com ST. É de suma importância, também, que não seja subestimada em suas capacidades cognitivas, acadêmicas e sociais.” (p.162)
“Com estes cuidados, há um bom prognóstico quanto ao desenvolvimento psicológico e social e uma qualidade de vida satisfatória. Vale ressaltar, porém, que o diagnóstico precoce da ST é de fundamental importância para que as famílias possam ser orientadas também precocemente quanto às atitudes mais adequadas a serem tomadas.” (p.162)
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